Friday, April 21, 2006

UM POUCO DE HISTÓRIA – RESSACA DE 2 DE FEVEREIRO DE 2000


Ressacas ocorrem sempre na costa de Santa Catarina. Agora as ressacas de leste – as LESTADAS, como dizem os pescadores da ilha, não são tão comuns assim. Para melhorar esta afirmação, diria que lestadas que entrem perfeitas na costa da ilha, com pouco vento, e com a direção deste sendo terral, são mais incomuns ainda.

LESTADAS com vento sul entram muito bem na Barra da Lagoa. A pressão destas lestadas pode ser apreciada quando passamos pela Praia Mole, vindo do Centrinho da Lagoa. A gente desce o morro pela estrada que leva das Rendeiras ao norte da ilha, passando pela Mole. O visual no canto sul da Mole e épico nestas datas. As ondas se formam intensas e poderosas lá nas pedras na ponta sul da Mole. Ondas de bom tamanho que já foram fotografadas pelo Basílio Ruy e avaliadas por este como tendo oito pés havaianos.

Com estas imagens na cabeça, vale a pena conferir os molhes da Barra da Lagoa.

Foi isto que eu fiz na tarde do dia 2 de fevereiro de 2000 – Dia de Nossa Senhora dos Navegantes. Por que a tarde? Este é um detalhe importante, pois a maré cheia ocorria a tarde naquele dia. Com esta maré as ondas que entram possantes nas pedras do canto direito da Barra da lagoa, vem a uma velocidade assustadora, com o lip mostrando ao que elas estão vindo. Com a maré alta, a onda passa sobre o canal da Barra e levanta um pouco. Para os novatos, a impressão é que a onda fecharia ao tocar na bancada em um gigantesco cachote. Acontece que, com a maré alta a onda entra perfeita abrindo numa direita que é élendária na ilha.

Cheguei, naquela quarta feira, logo apos o almoço no estacionamento da Pousada 32. Antes mesmo de chegar e estacionar, já pude perceber que algum grande evento estava acontecendo, a julgar pelo grande movimento de gente. A galera se vestindo, colocando seus longjohns, passando parafina nas pranchas – que eram grandes, algumas guns. Desci do carro, coloquei a roupa de borracha, preparei minha 7.0 e comecei a ir para a areia.

Vocês devem estar se perguntando: por que roupa de borracha em pleno fevereiro de Floripa??? Acontece que em LESTADAS, a água esfria muito, ficando gelada as vezes. Muitas pessoas que vem a turismo para Floripa se referem a Joaquina como uma praia de águas geladas. Isto é devido a coincidência da chegada das lestadas e das águas frias.

Da praia pude ver a maravilha do visual. Ondas maravilhosas vindo lá de trás das pedras, passando pelos faróis de sinalização dos pescadores sobre os molhes e se abrindo logo em seguida em longas paredes de águas escuras. A galera se esbaldando descendo as ladeiras e percorrendo grandes distancias pelas paredes.

Após um bom aquecimento e alongamento, comecei a entrar no mar pelo canto dos molhes, onde a entrada no mar era mais tranqüila e segura. Chegando no outside, vi um bom numero de surfistas aguardando as ondas. Muitos se concentravam junto aos molhes. Outros bem ao fundo, próximo a ponta das pedras no canto direito. Percebi imediatamente que o lugar para pegar as ondas da serie seria mais ao fundo. No canto junto aos molhes, a onda era mais curta, enquanto que a onda que passava pelo canal e ingressava ba bancada em frente a praia, abria uma direita muito longa. Notei que uma onda grande – da serie – levantava no canto da pedra e engordava ao passar pelo canal, vindo a formar novamente ao passar por esta. A primeira vista parecia que seria um caixotão, mas ela abria.

Comecei a remar quando uma destas ondas erguei-se após o canal. Não precisei remar muito para sentir que estava na onda. Com o bico da prancha vi como eu estava alto sobre esta onda. Via os demais surfistas bem de cima. Deveria ter uma parede com mais de 2 metros (sei que isto gera contorvercia, mas era esta a impressão antes do drop).

O drop foi longo, semi-vertical e muito veloz. Dei o “botton-turn” ao estilo clássico “Jorge Curren” a todo custo. Estava posicionado sobre a prancha como o lendário “THE BULL” e o Carlos Burle. Estava como um caranguejo na prancha. Isto dava uma grande estabilidade. Minha 7.0 quicou muito ao descer a ladeira. Corri pela parede desta onda fantástica até em frente a guarita dos salva vidas. A parede ao meu lado era alta, bem mais alta que eu. Minha prancha vinha veloz e fazia um ronco com a quilha.

Esta onda terminava em um caixote que evitei saído pelo quebra-coco. Muita adrenalina e uma satisfação incrível.

Isto tudo aconteceu aos meus 48 anos!!!

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